Fita da primeira versão do Unix em C é recuperada com sucesso

Fita da primeira versão do Unix em C é recuperada com sucesso

Técnica sofisticada permitiu recuperar dados sem danificar a mídia física (Imagem: Vitor Pádua/Tecnoblog)

Resumo

A fita magnética do Unix V4 de 1973 foi recuperada e restaurada por Al Kossow, do Museu da História da Computação.
A recuperação utilizou uma técnica que preserva o fluxo magnético, gerando um arquivo de 1,6 GB a partir de 40 MB de dados reais.
O Unix V4, reescrito em C, tornou o sistema portátil e influenciou sistemas modernos como Linux e macOS.

Uma das peças mais raras da história da tecnologia foi salva do esquecimento digital. Al Kossow, curador de software do Museu da História da Computação (CHM), conseguiu recuperar o conteúdo de uma fita magnética do Unix V4, datada de 1973. A mídia, encontrada por acaso no mês passado em um depósito da Universidade de Utah, contém a primeira versão do sistema operacional reescrita na linguagem C — um marco que mudaria para sempre a forma como interagimos com computadores.

Os arquivos foram reconstruídos e o sistema já está “vivo” novamente, rodando via emulação. O artefato foi encontrado pelo professor Robert Ricci, da Escola de Computação Kahlert, enquanto fazia uma faxina em uma sala de armazenamento da universidade. Dada a importância do achado, a mídia foi enviada com urgência para a Califórnia, segundo o jornal The Register.

Como conseguiram ler a fita magnética de 50 anos?

Recuperar dados de uma mídia magnética dessa idade não é tão simples. Se a equipe tentasse ler os arquivos da maneira tradicional, a degradação física da fita poderia causar erros irreversíveis. Por isso, os especialistas optaram por uma técnica mais sofisticada: preservar o fluxo magnético.

Em vez de tentar decifrar os “zeros e uns” imediatamente, eles usaram conversores de alta velocidade para criar uma “imagem” analógica das ondas magnéticas gravadas na fita. É um processo parecido com o que preservadores fazem com disquetes antigos: o objetivo é capturar o sinal bruto.

Essa leitura gerou um arquivo de 1,6 GB que representa cerca de 40 MB de dados reais. Depois, um software especial analisou essas ondas digitalizadas para reconstruir a informação original. Para quem quiser ver a história com os próprios olhos, uma versão pronta para uso foi disponibilizada. O sistema pode ser iniciado no emulador SimH, que simula o computador da época (um PDP-11), permitindo até digitar comandos em um prompt de 1973.

Imagens do sistema rodando já circulam no Mastodon, onde entusiastas colocaram o Unix V4 para funcionar em máquinas antigas por simulação.

Interface de linha de comando do Unix V4 rodando no emulador (imagem: reprodução/Mastodon)

Por que essa versão do Unix é tão importante?

A recuperação do Unix V4 preenche uma lacuna na história. As versões anteriores haviam sido escritas em Assembly, uma linguagem complexa e presa ao hardware específico da máquina. Foi na versão V4 que Ken Thompson e Dennis Ritchie reescreveram a maioria do sistema em C. Isso tornou o software “portável”, permitindo que ele fosse levado para outros computadores sem precisar ser recriado do zero. Sem esse passo, sistemas modernos como Linux e macOS talvez não existissem da forma como conhecemos.

O material bruto agora está preservado no Internet Archive, garantindo que não se perca novamente.
Fita da primeira versão do Unix em C é recuperada com sucesso

Fita da primeira versão do Unix em C é recuperada com sucesso
Fonte: Tecnoblog