Netflix culpa Brasil por rombo de US$ 619 milhões em resultado financeiro
Netflix culpa Brasil por rombo de US$ 619 milhões em resultado financeiro
Resultado abaixo do esperado da Netflix teve origem em imposto no Brasil (foto: Thiago Mobilon/Tecnoblog)
Resumo
Netflix teve lucro operacional menor que o esperado no trimestre e atribui isso a uma disputa tributária no Brasil que custou US$ 619 milhões.
Segundo a empresa, a despesa está ligada à CIDE, imposto federal criado para financiar avanços tecnológicos.
Apesar de afetar o resultado global, a receita e a audiência da Netflix cresceram mundialmente.
A Netflix apresentou seus resultados financeiros para o terceiro trimestre de 2025 nessa terça-feira (21/10). Mesmo com boa receita, o lucro operacional ficou abaixo do esperado. E o motivo, segundo a empresa, é o Brasil: uma despesa não prevista de US$ 619 milhões referente a uma disputa tributária no país. O montante equivale a R$ 3,34 bilhões em conversão direta.
O valor, que não estava no guidance (a previsão de resultados), fez o lucro operacional fechar em US$ 3,24 bilhões (cerca de R$ 17 bilhões). No comunicado oficial aos acionistas, a Netflix explica que, sem esse gasto, teria superado a meta de lucro que ela mesma estabeleceu. O impacto teria reduzido a margem operacional do trimestre em mais de cinco pontos percentuais.
Em entrevista a analistas, Spencer Neumann, diretor financeiro da Netflix, explicou que o custo se refere à CIDE (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico), um imposto federal criado para financiar o desenvolvimento tecnológico no país.
Entenda a despesa vinda do Brasil
Decisão da Justiça englobou streaming e fez Netflix considerar os gastos no balanço (foto: Thássius Veloso/Tecnoblog)
No balanço, o valor foi registrado como “custo de receita”. De acordo com a Netflix, refere-se a uma “disputa em andamento com as autoridades fiscais brasileiras” sobre “certas avaliações de impostos não relacionados à renda”. A empresa detalhou que o montante cobre um período retroativo, de 2022 até o terceiro trimestre de 2025.
Segundo a Bloomberg, o número final do lucro operacional ficou cerca de US$ 400 milhões (R$ 2,1 bilhões) abaixo do projetado por analistas de mercado. Esclarecendo os resultados financeiros a analistas, Neumann descreveu a CIDE como um “custo de fazer negócios no Brasil” e não um imposto comum sobre faturamento.
O imposto incide em cerca de 10% sobre determinados valores pagos por empresas brasileiras e entidades fora do Brasil. No caso da Netflix, o pagamento é feito pela Netflix Brasil à matriz norte-americana pelos serviços que permitem o funcionamento da plataforma no país.
Neumann afirmou que estava otimista em relação ao processo que contestava a aplicação da CIDE sobre serviços que não envolvem “transferência de tecnologia”. A Netflix teria vencido em instância inferior em 2022 sobre o não pagamento do imposto.
No entanto, o CFO considera que decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), proferida em agosto deste ano, ampliou o entendimento jurídico sobre o alcance da CIDE e a Netflix passou a registrar essa despesa.
“A CIDE é algo único, não temos nada parecido em nenhum outro país onde operamos”, afirmou o executivo. Ele também reforçou a mensagem do comunicado: “Não acreditamos que este assunto terá impacto material nos nossos resultados de agora em diante”.
Receita e engajamento em alta
Fora o impacto da questão tributária, os números da Netflix foram positivos. A receita global cresceu 17% em relação ao ano anterior, atingindo US$ 11,5 bilhões, um resultado em linha com a projeção da empresa.
A companhia também destacou o sucesso de seus lançamentos no período, incluindo a segunda temporada de Wandinha, o filme Um Maluco no Golfe 2 e o longa sul-coreano Guerreiras do K-pop, que se tornou o filme mais popular da história da plataforma. O relatório também cita a luta de boxe entre Canelo Álvarez e Terence Crawford como sucesso de audiência.
No comunicado, a Netflix também respondeu a preocupações do mercado sobre a concorrência com plataformas gratuitas, como o YouTube. A empresa destaca que atingiu sua “maior participação trimestral de audiência de TV de todos os tempos nos EUA e no Reino Unido”. Vale lembrar que a companhia começará a exibir canais de televisão ao vivo a partir do ano que vem, em uma parceria na França.
Netflix de olho na concorrência
Netflix pode expandir com compra da Warner Bros. Discovery (ilustração: Vitor Pádua/Tecnoblog)
No mesmo dia em que revelou o balanço financeiro, o nome da Netflix apareceu como possível interessada na compra de parte da Warner Bros. Discovery (WBD), controladora do streaming HBO Max. A aquisição seria em parceria com a Paramount Skydance — do multibilionário David Ellison, filho do dono da Oracle — e Comcast (dona do estúdio de cinema Universal).
Entretanto, horas após o anúncio da WBD sobre estar, oficialmente, considerando ofertas do mercado, o CEO da Netflix, Ted Sarandos, reforçou que a companhia segue sem interesse em adquirir veículos de comunicação tradicionais.
O foco, segundo o CEO, segue em crescimento orgânico e no desenvolvimento da tecnologia da própria plataforma, incluindo a incorporação de inteligência artificial generativa.
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Netflix culpa Brasil por rombo de US$ 619 milhões em resultado financeiro
Fonte: Tecnoblog